Cuidado em saúde mental é destaque na Semana Uma Só Saúde

Rodas de conversa, teatro e mesa redonda abordaram diversos aspectos do tema. No evento, foram apresentados projetos que buscam o protagonismo do paciente durante e após o tratamento

 

Nathállia Gameiro – Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília

Enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, sanitaristas, dentistas, residentes, graduandos, pesquisadores, estudantes e outros profissionais de saúde estiveram reunidos nesta terça-feira, 23 de abril, para discutir a pesquisa em saúde mental. Os participantes destacaram o papel do pesquisador e a contribuição para a sociedade na inovação. O uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em entrevistas e questionários e o Comitê de Ética foram lembrados como essenciais para a pesquisa. 

Os integrantes do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília André Guerrero, Adélia Capristano e Pérolla Goulart apresentaram duas pesquisas qualitativas, uma local e outra nacional, realizadas pela equipe. O primeiro projeto compreende a Investigação de barreiras e facilitadores para promoção do protagonismo de usuários do Centro de Atenção Psicossocial  (CAPs) do Distrito Federal. Este trabalho consiste em uma pesquisa participativa em que se buscou entender o que os usuários e profissionais que trabalham nos CAPs pensavam sobre o protagonismo e quais as principais barreiras e facilitadores para implementação de ações de protagonismo em dois Centros de Atenção do DF. Foram realizadas coleta, entrevistas, observação, grupo focal e oficinas de debate dos dados para construção do plano de ação com agenda compartilhada entre gestores, usuários, familiares, profissionais e pesquisadores.

“A ida a campo, entrevista, estadia e saída já geram um impacto no local”, ressaltou a pesquisadora Pérolla Goulart ao lembrar que é necessária uma devolutiva às pessoas que participaram da pesquisa, de forma que elas compreendam os resultados. Para isso, a equipe criou um jogo que facilitou a troca com os usuários, apresentando as barreiras elencadas por eles e a construção conjunta de propostas para superá-las. Como resultado, foram produzidos vídeos feito pelos usuários, que serão divulgados em breve no canal da Fiocruz Brasília no youtube.

A pesquisadora Adélia Capristano conta que a pesquisa interferiu de forma positiva na oferta de serviços dos CAPs, garantindo assim o protagonismo dos usuários e o estreitamento da distância entre o tomador de decisões e o cidadão que é beneficiado pelas políticas públicas. Para André Guerrero, coordenador da equipe, a gestão também precisa assumir papel de protagonista frente às demandas levantadas.

Os beneficiários do Programa de Volta para Casa (PVC) são os protagonistas da outra pesquisa, intitulada: Implantação do Programa de Volta para Casa como estratégia de desinstitucionalização: o impacto na vida dos beneficiários. O trabalho fez um resgate histórico da Reforma Psiquiátrica e do Programa, a partir de entrevistas, revisão bibliográfica e grupos focais. Foram entrevistados ex-internos de hospitais psiquiátricos de Paracambi (RJ), Ilhéus, Feira de Santana e Salvador (BA), Campina Grande (PB), Recife (PE) e Barbacena (MG). Esses locais abrigaram grandes manicômios e hoje têm um enorme grupo de beneficiários do PVC. Ao todo, 110 pessoas foram entrevistadas.

A pesquisa mostrou que existe ainda uma baixa produção acadêmica sobre o tema e a grande complexidade de implementação e acompanhamento do PVC. O efeito do Programa no itinerário de vida dos beneficiários é o nítido aumento da autonomia e poder de contratualidade das pessoas.

“É possível ver o quanto essas pessoas ganharam com o PVC. São pessoas que ficaram 30, 40 anos em um hospital psiquiátrico, que chegaram muito cedo e construíram a vida no local. Eles tiveram acesso a coisas que muitas vezes parecem pequenas para nós, mas para eles faz uma grande diferença, como poder escolher uma roupa e pegar um ônibus, por exemplo”, conta Guerrero.

Para o pesquisador, é importante que a sociedade tome conhecimento do processo e a ciência cidadã pode auxiliar, pois permite fazer outros registros e traduzir os resultados da pesquisa. Um deles é a mostra fotográfica Morar em Liberdade: 15 anos do Programa de Volta Para Casa, que conta a história da psiquiatria no país, dos manicômios à Luta Antimanicomial com a Reforma Psiquiátrica. A instalação abriga imagens sobre a vida dos ex-usuários dos hospitais psiquiátricos em 2007 e 2018 e convida o visitante a refletir sobre a política de saúde mental  contemporânea. A 7ª edição da mostra, de iniciativa do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília em parceria com a TV Pinel, está aberta à visitação na Escola Fiocruz de Governo, na unidade da Fiocruz na capital federal, até o dia 31 de maio.

Território educativo

A educação no território foi tema de outra roda de conversa na Semana Uma Só Saúde. Profissionais de saúde de diferentes municípios do Rio Grande do Sul e de outros estados brasileiros falaram sobre suas experiências na educação permanente. Durante o debate, foi destacada a necessidade de analisar a situação de saúde e todo o contexto do território para que possa ter uma noção visual do local para uma contribuição efetiva. A diretora executiva da Escola Fiocruz de Governo da Fiocruz Brasília, Luciana Sepúlveda, falou sobre a experiência da Fiocruz no trabalho com as escolas e com a comunidade escolar em projetos realizados na capital federal.

“A educação é um direito humano e um direito de existir. Além de autônomo, o território precisa ser autor das ações. A educação permanente parte das trocas de conhecimento”, afirmou Sepúlveda. Questões como o olhar ampliado para a saúde do ambiente, a formação de rede para a sustentabilidade das ações e o georeferenciamento também foram destacadas na atividade.

A programação da Semana Uma Só Saúde continua até quinta-feira, 25 de abril. Confira a cobertura completa: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/feira-de-solucoes-para-a-saude-acompanhe-a-cobertura-completa-aqui/

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