Imuniza Estrutural. Este é o nome do novo projeto da Fiocruz Brasília, executado por meio do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) e da Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde (Picaps), em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). O trabalho vai promover a imunização contra a covid-19 na Região Administrativa da Cidade Estrutural, uma das maiores e mais vulnerabilizadas áreas do DF. Baseado em três pilares: comunicação e mobilização social; monitoramento e sustentabilidade das ações; e vacinação das populações mais vulneráveis, o Imuniza Estrutural busca o apoio da comunidade local para aumentar a cobertura vacinal de doenças imunopreveníveis, como a Covid-19, mas também a influenza, o sarampo e outras.
O lançamento do projeto foi realizado no último sábado, 9 de julho, e contou com a participação de líderes locais, das instituições parceiras e do Ministério da Saúde (MS). A representante da OPAS , Socorro Gross, lembrou que a vacinação, juntamente com água potável e aleitamento materno são essenciais para a saúde da população, mas a comunidade precisa acreditar e se imunizar. “Vacinas protegem, são seguras, são gratuitas e estão aí para as nossas famílias. E o maior programa de vacinação que temos na nossa região está aqui, no Brasil, à nossa disposição. Sou costarriquenha e o Brasil tem vacina contra Covid-19 para mim, para todas as pessoas que trabalham na OPAS e para a minha família também. A saúde não se constrói nos serviços, mas em nossas casas, com nossos entes queridos. E somos nós que temos como modificar o que as pessoas pensam sobre a vacinação”, apontou. Gross lembrou a poliomielite, doença erradicada no Brasil graças à vacinação, mas que tem preocupado outros países do mundo, como o Reino Unido.
Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, o lançamento do projeto Imuniza Estrutural representa o que vem acontecendo no Brasil: uma união pela vacinação. “Hoje estamos juntos com a comunidade para que a vacinação seja reafirmada como proteção e promoção da saúde em defesa da vida. Nós temos um histórico e o maior programa de vacinação do mundo, que é o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, e vimos o quanto a vacinação foi importante, mesmo diante das novas variantes da Covid-19. A vacina deu uma resposta eficiente para que possamos circular pela comunidade, seguir a nossa vida, mesmo diante de tantas perdas. Hoje é importante que reconheçamos a potência da vacina para seguirmos promovendo saúde em todo o território do DF”, pontuou. O projeto começa pela Estrutural, mas poderá ser compartilhado e disseminado em todos os territórios do DF.
Para a representante do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, o Imuniza Estrutural é histórico para o DF. “As lideranças são peças fundamentais no trabalho em saúde, porque são formadoras de opinião, conhecem seus vizinhos, têm pais, mães, filhos e podem motivar esse processo de vacinação. Se hoje não vemos mais casos de paralisia infantil causados pela poliomielite, é pelo histórico de vacinação no Brasil. Contra a Covid-19, temos alta cobertura vacinal para a primeira e a segunda doses, mas os reforços estão com cobertura inadequada”, alertou, lembrando o papel da comunidade para que pessoas próximas completem o esquema vacinal.
Durante o evento, foi apresentado que a cobertura vacinal contra a Covid-19 atingiu 92% da população no DF para a primeira dose, mas caiu para 84% na segunda. Para o subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Divino Valero, não se faz saúde pública para a população, mas com a população. “O Ministério da Saúde trabalha com 20 tipos de vacinas e é importantíssimo voltarmos à cultura da vacina. Se não nos unirmos e não tivermos a consciência da importância da cobertura vacinal, teremos a volta de doenças como os recentes casos de sarampo no DF”, argumentou. Concorda com ele o representante da Subsecretaria de Atenção Integral à Saúde do DF, Maurício Fiorenza. “Mesmo tendo mais de 120 salas de vacinação no DF, a procura caiu. Temos vacinas cuja cobertura ainda não atingiu 80%”, revelou.
A representante da superintendência da Região de Saúde Centro-Sul e gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) número 1 da Estrutural, Andressa Castro, destacou um dos bairros da Cidade Estrutural que merece mais atenção. “O Santa Luzia cresce desordenadamente e fazer saúde para essa população tão vulnerável, que precisa tanto e precisa de visibilidade é muito importante”, afirmou, ao ressaltar o trabalho dos servidores na UBS durante a pandemia.
A representante do Movimento de Cultura e Educação da Estrutural (Mece), Abadia Teixeira, comentou que a população recebe o projeto Imuniza Estrutural com alegria. “Sem a vacina não sabemos o que seria do nosso país, do mundo. E nós precisamos desse esforço. Vamos fazer de tudo para ser um bom exemplo, para que esse projeto cresça para outras comunidades. Esse é um investimento em nós, e vemos que estão pensando nas pessoas mais vulneráveis”, disse. Para Luzia Soares de Jesus Farias, uma das agentes de governança territorial mobilizadoras de lideranças locais, o Imuniza Estrutural será um sucesso. “A comunidade está muito feliz com o projeto que chega à cidade. Nós necessitamos muito de saúde e a população do território é grande. O nosso propósito é com a saúde”, ressaltou. “Agradecemos a licença desta comunidade para entrar em suas casas e fazer parte de suas vidas, para que sejam os protagonistas da vacinação e demais ações”, disse Lely Guzmán, especialista em imunização da OPAS.
Para o coordenador do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, a mobilização popular é a chave para o sucesso do projeto. “O SUS é o maior sistema de saúde pública do mundo. E pouca gente antes da pandemia de Covid-19 sabia o quão forte era o SUS. Temos que falar para as pessoas que o nosso sistema de saúde é capaz de enfrentar as crises sanitárias que estão aí, e as que virão. Estamos a serviço da comunidade da Cidade Estrutural para mobilizar as pessoas e trazê-las para o posto de saúde”, enfatizou.
“Nós sabemos que a vacinação é a melhor forma de trabalhar a resiliência pós-pandemia. A situação da saúde precisa ser sempre prioritária em recursos, investimentos e em atenção. E precisa amadurecer a ponto de conseguir chegar melhor na comunidade. A ideia desse projeto é trazer a comunidade mais próxima da vacinação”, afirmou Fernando Erick, coordenador de Atenção Primária à Saúde da SES/DF.
E quem não estava com esquema vacinal completo pôde se imunizar contra Covid-19 e Influenza logo após o lançamento do projeto. Foi o caso da Vanessa Ferreira Dias, moradora do bairro Santa Luzia, que recebeu a terceira dose, além de se imunizar contra a gripe. “O projeto é muito importante para a comunidade, porque tem muita gente que ainda tem receio, ou que viu as fake news, e tem medo da vacina. Nós sabemos que a vacinação é muito importante, e desde que nascemos, já somos vacinados”, revelou.
O projeto Imuniza Estrutural prevê também atividades para capacitação da comunidade, além da imunização.
Fotos: Bruna Seabra