Fossas verdes promovem melhoria de saúde no sertão do Ceará

 

Por Nathállia Gameiro

O direito ao saneamento básico no Brasil é assegurado pela Constituição Federal, mas nem todos os brasileiros têm acesso à rede de esgoto. Segundo dados do IBGE, o número de pessoas desassistidas chega a 57 milhões de pessoas, e até 80% das áreas rurais.   Essa insuficiência de saneamento básico tem impactos na saúde da população, podendo provocar doenças, e no meio ambiente, já que o despejo de esgotos a céu aberto ou em fossas comuns pode poluir o solo, os lençóis freáticos e as reservas de água.

Para transformar essa realidade, pesquisadores e professores da Universidade Federal do Ceará (UFC) implementaram fossas verdes no município de Madalena, localizado a cerca de 180 quilômetros de Fortaleza. Foram construídas 70 fossas verdes no assentamento de Reforma Agrária 25 de maio, em escolas, posto de saúde e casas, com benefício para 600 famílias.

O projeto será apresentado na Feira de Soluções para Saúde, que integra a programação da Feira do Conhecimento, com data marcada para 16 a 19 de outubro, em Fortaleza (CE).

 

Cada fossa tem capacidade de 210 a 420 litros e um custo baixo de aproximadamente 450 reais. As valas são de concreto e impermeabilizadas, o que impede o contato dos dejetos com o solo e assim, a poluição. A parte aquosa molha o solo e as árvores ali plantadas absorvem os nutrientes para produzir frutos. A água já sai limpa por evaporação e os frutos não são contaminados.

Segundo o professor de Hidrologia da UFC e coordenador do projeto, José Carlos de Araújo, menos de 5% das residências no sertão do Ceará tem acesso a um tratamento adequado do esgoto, já que uma parte da população utiliza as fossas negras, escavadas diretamente no terreno, fazendo com que os resíduos caiam no solo. Com menos de 2 anos da implementação do projeto, os resultados já apareceram. A equipe realizou pesquisa e comparou os dados do ponto de vista de doenças típicas de veiculação hídrica.

“A solução é viável porque o grande insumo é a energia solar, que temos em excesso. O sol, que muitas vezes é encarado como inimigo, pode virar nosso amigo. O excedente de radiação, nos levou a adotar uma solução como essa, viável nos quesitos técnico e econômico e que deveria se tornar uma política pública de saneamento rural”, ressalta Araújo.

As fossas verdes surgiram na Dinamarca e foram disseminadas para outros países, como o Brasil. Ao chegar no Ceará, professores da UFC iniciaram pesquisa para analisar se causavam danos à saúde, já que não existiam estudos, apenas cartilhas com orientações para construir a fossa.

A ideia teve início em 2009 e em 2010, a primeira fossa verde foi construída no maior posto de saúde do município de Madalena, que abrigava um esgoto a céu aberto. Para a implementação do projeto, a equipe realizou o contato com a comunidade para apresentar a proposta e ter a aceitação e participação de todos. A fossa funciona no local até hoje.

O pesquisador explica que as principais diferenças entre a fossa verde e a comum é que na fossa padrão, a água não tem escoamento. O excedente vai para um sumidouro, outra caixa, e a água é infiltrada no chão, poluindo o solo da mesma maneira que o esgoto in natura. Já na fossa verde a água evapora e pode passar os nutrientes para plantas, além de não poluir o meio ambiente. O custo da fossa comum também é mais alto e a manutenção deve ser feita de dois em dois anos. A estimativa era de que a retirada do excesso de lodo da fossa verde precisaria ser feita a cada quatro anos, mas se passaram dez anos desde a implementação e não foi necessária.

Para a continuidade do projeto, os moradores passaram por capacitação, com oficina de educação ambiental e curso com os jovens. “Não adianta só ter a tecnologia e não ter a assistência técnica”, afirma Araújo. Todo o projeto foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Sobre

A Feira de Soluções para a Saúde– Saúde Digital para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, em Fortaleza – CE faz parte da programação da Feira do Conhecimento, será espaço de diálogo regional e formação de redes de cooperação entre os responsáveis pelas soluções industriais, sociais e de serviços de saúde inscritas. Clique aqui para conhecer as demais experiências inscritas.

As Feiras de Soluções para a Saúde surgiram em 2017, a partir do projeto Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para Zika vírus e microcefalia no âmbito do SUS, sob a responsabilidade da Fiocruz Brasília e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz).

A primeira edição da Feira de Soluções para a Saúde, promovida pela Fiocruz, foi realizada em Salvador (BA), em 2017, com tema específico para o combate à zika e às síndromes congênitas. Em abril deste ano, a segunda edição da Feira foi realizada em Bento Gonçalves (RS), com tema Saúde Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis. As soluções cadastradas em ambos eventos estão acessíveis online, já que uma das propostas da Feira é justamente montar um banco de soluções para a saúde, organizado por área de atuação.

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