Mesa debate relação Saúde, Ambiente e Trabalho

 

Wagner Vasconcelos – Assessoria de comunicação da Fiocruz Brasília

 

“O ser humano é um ser que trabalha, e o trabalho é quase uma condição para sua vida. Mas, nos espaços de trabalho, a preocupação com a saúde do trabalhador é muito pequena”. A constatação é do engenheiro de segurança Fábio Kalil, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, que durante, a Feira de Soluções para a Saúde, apresentou dados preocupantes sobre o tema. Dentre eles, aqueles que mostram que dos acidentes de trabalho mais graves, o uso de máquinas e ferramentas, o trânsito e as quedas são os mais comuns. E as maiores vítimas desse tipo de ocorrência (mais de 90%) são homens jovens e de cor branca.

Kalil foi um dos quatro integrantes da mesa-redonda Território Saudável e Sustentável, moderada pelo pesquisador Jorge Machado, coordenador do Programa de Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília. A atividade foi realizada no espaço Ágora, uma réplica de anfiteatro montada na Feira, que está sendo realizada desde 22 de abril na cidade de Bento Gonçalves.

Mas as discussões na mesa-redonda tiveram escopo muito mais abrangente, tendo como fio condutor a relação saúde e ambiente. Tanto que a representante da Funasa (Fundação Nacional da Saúde), Bárbara Marques, dedicou seu tempo para falar sobre a relação entre a agroecologia e o saneamento rural, mais especialmente, sobre o Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR).

Com a ideia central de formar uma “teia de parceiros e construir políticas com os sujeitos”, o programa busca conhecer as pessoas e as experiências que elas desenvolvem, de forma a se apropriar e melhor trabalhar as suas diretrizes. Afinal, “quem conhece a nossa realidade somos nós mesmos”, teria dito uma mulher de uma comunidade atendida pelo programa, relatou Bárbara em sua apresentação. Para isso, o programa faz mapeamentos das iniciativas existentes e dialoga com as pessoas.

Bárbara apresentou uma série de experiências já em andamento e disse que o PNSR tem foco na dignidade humana, na saúde coletiva e na preservação dos recursos naturais.

O geólogo da Emater/RS (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), Leandro Feijó Fagundes, destacou a importância do diálogo sobre agroecologia, saneamento rural e vigilância ambiental para o desenvolvimento de territórios saudáveis e sustentáveis. Para isso, fez um breve retrospecto da produção agrícola brasileira, que viveu momentos de práticas simples no período colonial até períodos de intensa modernização em especial entre os anos 70 e 80. Na esteira dos investimentos em tecnologia, registrou-se, igualmente, uma intensificação do uso de insumos agrícolas.

Feijó assinalou a necessidade de as práticas extensionistas observarem os muitos elementos envolvidos nas atividades agrícolas, e não apenas um único objeto. “Um mesmo objeto pode cumprir mais de uma função”, disse ele, dando o exemplo de um açude, que pode ter vários usos. Dentre os questionamentos que lançou, destacou: “quais produtos de cada elemento atendem as necessidades de outros elementos?”.

Para o geólogo, as atividades de extensão rural devem estar centradas em processos educativos, algo que possibilite, por exemplo, se discutir não apenas o tratamento das águas de esgoto, mas, inclusive o seu reuso. “Temos carência em pesquisas desse tipo, e precisamos unir a engenharia à biologia”, defendeu Feijó.

A educação foi tema que também perpassou a fala do engenheiro agrônomo Luís Carlos Diel Rupp, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, do campus de Bento Gonçalves. O especialista chamou a atenção para os efeitos dos fungicidas para a saúde dos trabalhadores rurais. De acordo com ele, há cerca de 20 anos, eram empregados entre sete e oito fungicidas na atividade agrícola. Hoje, ele diz serem mais de 20. Efeitos dessa realidade, segundo ele, já podem ser percebidos na saúde dos filhos dos agricultores, que apresentam redução na quantidade de espermatozoides, por exemplo. E o grave da situação seria a própria naturalização dos efeitos nocivos por parte de que os sofre. Muitos dos agricultores hoje na faixa etária dos 50 anos adotam a lógica de que eles mesmos são ‘fracos’ porque foram intoxicados por agrotóxicos, disse Luís Carlos.

Ele mais uma vez exemplificou a situação preocupante da realidade de trabalho dizendo que os tratores utilizados na lavouras são geralmente protegidos por capas, mas os trabalhadores que os manejam geralmente não fazem uso dos EPI (Equipamento de Proteção Individual).

Por outro lado, a perceptível evolução no nível educacional pelo menos dos filhos dos agricultores tem acendido um sinal de esperança e mostrado que com eles é mais fácil se dialogar quanto aos riscos do uso de veneno, algo bastante estimulado na geração de seus pais.

O especialistas defendeu uma combinação entre tradição, inovação e ciência para o desenvolvimento de uma agricultura orgânica que seja benéfica para os espaços partilhados, de forma a se assegurar boa qualidade de vida a todos. O especialista defende que informações sobre como se pode produzir sem veneno precisam chegar às comunidades rurais. Além disso, um mercado que garanta o escoamento da produção dos agricultores e a organização de suas estruturas e métodos de trabalho são fundamentais para melhorar as condições de vida deles.

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